A OUTRA FACE DA “IMPORTÂNCIA DE NÃO SER IMPORTANTE”
Aquele que já leu o livro “As veias abertas da América Latina” de Eduardo Galleano deve conhecer a frase “a importância de não ser importante”, quando o autor discorre sobre o processo da colonização inglesa ao território pobre de recursos naturais norte-americano, o que não incentivou muito ao processo de exploração do homem pelo homem, uma vez que sua colonização em geral foi de caráter imigratório e não de extração (como no Brasil) permitindo maior desenvolvimento daquele território .Hoje me permito a usar esta frase para falar de outra “importância de não ser importante”, uma mais fria e cruel e que diferentemente aos EUA não traz desenvolvimento, pelo contrário traz um processo cada vez mais agressivo de uma sociedade injusta.
Falo da importância dos excluídos nas nossas discussões diárias, falo do JOVEM que mais necessita ser pautado nas mesas de reuniões, falo do ignorado mais presente em nosso cotidiano e que enxergamos quando ele já é fruto do resultado da exclusão.
A discussão da Política Pública para a Juventude é ainda muito tímida e frágil de embasamento nos âmbitos de organizações juvenis, há então uma grande dicotomia neste processo, o jovem protagonista não proporciona instrumentos e até mesmo (alguma vezes) disposição para tornar protagonistas jovens que não têm acesso às redes sociais de serviços (escola, saúde, esporte, lazer e cultura).
A juventude é a fase da nossa vida em que encontramos diversas contradições e aprendizados, uma fase híbrida e infelizmente pouco respeitada pela sociedade em geral “eu vejo na tevê o que eles falam sobre os jovens não é sério, o jovem no Brasil nunca é levado a sério”.
A falta de acesso a uma vida digna e as facilidades encontradas no mundo paralelo do crime, remete parcelas significativas dos jovens brasileiros à vida infracional, onde infringir leis e o sistema implantado é o maior objetivo deles, mesmo que inconsciente, para que eles assim possam ser enxergados.
Não tenho a intenção de entrar num discurso piegas de que estes adolescentes não têm culpa ou não sabem o que fazem, meu objetivo é mostrar que eles (assim como nós que fazemos parte da “elite” intelectual, mas que somos tão jovens quanto) estamos no processo de desenvolvimento, tornando-nos suscetíveis à empreitadas infelizes.
A violência (a maior das epidemias vivenciadas na Idade Contemporânea) acomete uma grande parcela de seres “não importantes” para a sociedade, mas que engordam os dados estimativos de morte a cada dia que se passa.
A Política Pública para Juventude deve ser pautada por jovens, para que as estratégias e alternativas sejam reais e paupáveis no enfrentamento desta realidade, pois somos nós –jovens - que entendemos a dinâmica da fase etária que passamos .Nos excluir do debate é permitir o descrédito social.
“As mulheres, os negros, os índios e homosexuais, por exemplo – eles próprios sofrendo na pele a dominação e opressão – se organizaram e construíram discurso e praticas alternativos da radicalidade.” (Wanderlino Nogueira Neto procurador de Justiça do Ministéria da Bahia). O fato destes recortes de identidades discutirem sua própria realidade traz para a sociedade a eficácia de um discurso embasado pela realidade vivenciada. Problematizar nossa realidade é trazer à tona um respeito, ainda não adquirido, para a sociedade.
Dessa maneira, proponho maiores discussões em nossas organizações, para que possamos atingir a parcela juvenil que mais necessita de alternativas, a parcela juvenil que necessita de uma Política Pública embasada na sua discussão para que seja eficaz na sua execução. Permitir a importância daqueles que ainda não são importantes é trazer um discurso maduro da sociedade igualitária que defendemos.
(Camilla Iumatti)
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