16 maio, 2014

Greve da PM: todos prederam





Ainda é cedo para fazer uma análise detalhada sobre o movimento paredista dos policiais militares, mas algumas impressões ficaram: a primeira é de que não houve vencedores, só vencidos.
Ontem, por volta das 20h, ouvi de um PM que estava tomando cerveja após o fim da greve: "na Bahia morreram 49 em um só dia, num instante resolveu os 50%". Sem entrar no mérito do sentimento de frustração desse trabalhador, chamou a atenção a ideia de que a moeda de troca na mesa de negociação era a vida das pessoas e isso é um sinal da degradação social.
Esse mesmo PM e seu colega de farda, na mesa do lado da minha, ainda comentaram que a decisão de findar a greve foi mais imposto pelo comando das Associações do que vontade da categoria: "os caras só estão pensando em se eleger, a tropa queria continuar". Ou seja, por trás de uma categoria disposta a lutar por seus direitos havia um grupo que estava querendo tirar proveito da situação para depois angariar votos nas eleições de outubro. Os avanços na pauta de reivindicação foram insignificantes diante das perdas sociais.
As cenas de saques e violência urbana demonstram a fragilidade do nosso tecido social e a ineficiência do Estado, mas revela, principalmente, o efeito da ideologia consumista predominante. Vivemos numa sociedade do ter e em ano de copa todos precisam ter uma TV gigante de última geração. Como a maioria da população não vai ter acesso a esse bem de consumo, na primeira oportunidade que teve buscou suprir essa necessidade criada pelo capitalismo. Daí a quantidade de populares participando da expropriação nas lojas.
Um amigo de Abreu me confidenciou que havia até pastor promovendo saques. Onde ficam os preceitos cristãos? Provavelmente diluídos nos interesses obtusos, típicos do "ópio do povo" e contrários a solidariedade proletária.
Trabalhadores foram assaltados, pessoas foram mortas em números muito maiores que os que estamos habituados a ver como reflexo da ineficiência do Estado. Um clima de terror se instalou por toda parte.
Precisamos de algum tempo para entender dimensão e as consequências da greve dos policiais militares, mas uma coisa fica clara: o capitalismo cria contradições que não pode resolver e se as pessoas não pensarem em construir outro sistema, o futuro será a barbárie.