29 junho, 2007

A OUTRA FACE DA “IMPORTÂNCIA DE NÃO SER IMPORTANTE”

Aquele que já leu o livro “As veias abertas da América Latina” de Eduardo Galleano deve conhecer a frase “a importância de não ser importante”, quando o autor discorre sobre o processo da colonização inglesa ao território pobre de recursos naturais norte-americano, o que não incentivou muito ao processo de exploração do homem pelo homem, uma vez que sua colonização em geral foi de caráter imigratório e não de extração (como no Brasil) permitindo maior desenvolvimento daquele território .
Hoje me permito a usar esta frase para falar de outra “importância de não ser importante”, uma mais fria e cruel e que diferentemente aos EUA não traz desenvolvimento, pelo contrário traz um processo cada vez mais agressivo de uma sociedade injusta.
Falo da importância dos excluídos nas nossas discussões diárias, falo do JOVEM que mais necessita ser pautado nas mesas de reuniões, falo do ignorado mais presente em nosso cotidiano e que enxergamos quando ele já é fruto do resultado da exclusão.
A discussão da Política Pública para a Juventude é ainda muito tímida e frágil de embasamento nos âmbitos de organizações juvenis, há então uma grande dicotomia neste processo, o jovem protagonista não proporciona instrumentos e até mesmo (alguma vezes) disposição para tornar protagonistas jovens que não têm acesso às redes sociais de serviços (escola, saúde, esporte, lazer e cultura).
A juventude é a fase da nossa vida em que encontramos diversas contradições e aprendizados, uma fase híbrida e infelizmente pouco respeitada pela sociedade em geral “eu vejo na tevê o que eles falam sobre os jovens não é sério, o jovem no Brasil nunca é levado a sério”.
A falta de acesso a uma vida digna e as facilidades encontradas no mundo paralelo do crime, remete parcelas significativas dos jovens brasileiros à vida infracional, onde infringir leis e o sistema implantado é o maior objetivo deles, mesmo que inconsciente, para que eles assim possam ser enxergados.
Não tenho a intenção de entrar num discurso piegas de que estes adolescentes não têm culpa ou não sabem o que fazem, meu objetivo é mostrar que eles (assim como nós que fazemos parte da “elite” intelectual, mas que somos tão jovens quanto) estamos no processo de desenvolvimento, tornando-nos suscetíveis à empreitadas infelizes.
A violência (a maior das epidemias vivenciadas na Idade Contemporânea) acomete uma grande parcela de seres “não importantes” para a sociedade, mas que engordam os dados estimativos de morte a cada dia que se passa.
A Política Pública para Juventude deve ser pautada por jovens, para que as estratégias e alternativas sejam reais e paupáveis no enfrentamento desta realidade, pois somos nós –jovens - que entendemos a dinâmica da fase etária que passamos .Nos excluir do debate é permitir o descrédito social.
“As mulheres, os negros, os índios e homosexuais, por exemplo – eles próprios sofrendo na pele a dominação e opressão – se organizaram e construíram discurso e praticas alternativos da radicalidade.” (Wanderlino Nogueira Neto procurador de Justiça do Ministéria da Bahia). O fato destes recortes de identidades discutirem sua própria realidade traz para a sociedade a eficácia de um discurso embasado pela realidade vivenciada. Problematizar nossa realidade é trazer à tona um respeito, ainda não adquirido, para a sociedade.
Dessa maneira, proponho maiores discussões em nossas organizações, para que possamos atingir a parcela juvenil que mais necessita de alternativas, a parcela juvenil que necessita de uma Política Pública embasada na sua discussão para que seja eficaz na sua execução. Permitir a importância daqueles que ainda não são importantes é trazer um discurso maduro da sociedade igualitária que defendemos.

(Camilla Iumatti)

28 junho, 2007

Capitalismo insustentável

Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de crescimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais, dos quais a humanidade depende. Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos países. Desses recursos, depende não só a existência humana e a diversidade biológica, como o próprio desenvolvimento econômico. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos, bem como, o aumento da reutilização e da reciclagem. Nas últimas décadas temos assistido ao crescimento desordenado e a destruição dos recursos naturais em nome do desenvolvimento e com isso o comprometimento da qualidade e da própria vida no mundo. A utilização racional desses recursos, através de políticas de preservação, tem sido o caminho apontado para o verdadeiro desenvolvimento.
A globalização entrou na ordem do dia, como salvação para a estagnação do desenvolvimento econômico mundial. Tornando-se urgente a busca de soluções para evitar o colapso do sistema e convulsões sociais que comprometessem, tanto os países em desenvolvimento quanto os desenvolvidos. Como a causa pode ser solução?
Sabemos que a acumulação de riquezas é o motor do sistema vigente, na base do custe o que custar. Sem uma consciência coletiva ficará cada vez mais próximo o colapso, mas, a culpa não deve ser individualizada, como querem alguns, numa clara tentativa de encobrir as mazelas geradas pelo capitalismo. Não existe solução definitiva enquanto durar esse regime de exploração. Um regime que degrada não só o meio ambiente, como a própria natureza humana. Não haverá desenvolvimento sustentável enquanto o capitalismo perdurar.

15 junho, 2007

Qualidade de ensino X escola particular

Quantas vezes não nos deparamos com outdoors imensos com frases, “ensino de qualidade com a melhor equipe”? Todavia, você já se perguntou se de fato a escola onde seu filho estuda oferece realmente uma boa educação? A escola tem biblioteca e espaço de estudo extraclasse preconizados por um projeto pedagógico elaborado pelos professores? Se de fato essa escola valoriza os profissionais que tem?
Esses questionamentos têm o intuito de alertá-lo para as arapucas armadas em nome do mito que a escola pública não presta e da excelência das escolas particulares. Uma análise, mesmo que preliminar, pode colocar por terra esses e outros mitos.
Não temos dúvida do empenho e abnegação dos professores para assegurar um ensino de qualidade, porém, também sabemos das terríveis condições salariais e de trabalho a que estes profissionais estão submetidos. Portanto, a mensalidade que é paga nem sempre corresponde ao que foi propagado.
O exame nacional do ensino médio (ENEM), que além de avaliar os estudantes de todo país serve para classificar em faculdades e universidades, apesar de não ser o melhor instrumento de avaliação para toda a educação, é usado como parâmetro para medir desempenhos.
Observando as médias do ENEM em dois campos avaliativos e comparando a média nacional com o resultado de 96 escolas particulares participantes no Recife, constatamos que 37 delas ficaram abaixo da média na prova objetiva e outras 42 abaixo no quesito redação e prova objetiva, enquanto que algumas ficaram com desempenho próximo ou abaixo das escolas públicas.

Média nacional:
Provas objetivas – 47,113
Redação e provas objetivas – 53,116

Escola: CENTRO EXPERIMENT. GINÁSIO PERNAMBUCANO
Média prova objetiva: 43,95
Média redação + objetiva: 51,76
Tipo de Escola: Pública

Escola: SÃO JOSÉ
Média prova objetiva: 42,18
Média redação + objativa: 51,13
Tipo de escola: Privada

Fonte: MEC/INEP

Citamos dois exemplos de escolas tradicionais no Recife para dizer que, os números apenas reforçam a idéia de que uma educação de qualidade passa por melhores condições de trabalho e valorização profissional e que se houver investimento na Escola Pública ela terá muito mais a oferecer do que essas "concessões à particulares".