22 julho, 2011

Para além do maniqueísmo midiático e partidário (final)

Para Marx, o capitalismo destrói o futuro à medida que suga toda riqueza natural e a força de trabalho, “[...] pela exploração, aberta, cínica e brutal” (MARX, 2002, p. 28). Portanto, o crescimento do capitalismo gera a miséria do proletariado. Os marxistas mais atentos não são defensores incondicionais do progresso do sistema, pois as crises de superprodução se dão devido a “civilização em excesso, meios de subsistência em excesso, indústria em excesso, comércio em excesso” (MARX, 2002, p. 34). E como sabemos quem paga a conta dessas crises é a classe obreira.

Em nome do progresso e do crescimento os recursos naturais foram sendo solapados pelo capital, os exemplos dados pelas grandes potências vão na contra-mão do futuro e ameaçam as novas gerações. Isso se aplica, tanto para os que defendem a preservação visando a exploração da sua biodiversidade, quanto para os que apostam num país celeiro do mundo. Mesmo diante de tanta produção de alimentos a fome continua sendo um espectro que ronda o Brasil e o mundo. E por que isso ocorre? Primeiro, porque as áreas agricultáveis são usadas no plantation e o outro motivo é o caráter excludente do capitalismo.

Fazer a discussão no extremo das posições, tal como a imprensa quer, levando as forças partidárias ao acirramento não contribui para a solução dos impasses. Ou seja, se é verdade que o Brasil precisa desenvolver suas potencialidades atuais também deve preservar ao máximo as condições naturais para o futuro. O desmatamento acentuado nas margens dos rios compromete as fontes hídricas, recurso vital à humanidade. Isso é incontestável.

Independente da votação do código o debate sobre o tema deve perpassar as preocupações dos círculos de discussão entre os brasileiros, sem o maniqueísmo do bem e do mal. Não existe só ambientalista alinhado aos interesses antinacionais e nem apenas latifundiários descompromissados com o futuro interessados nessa discussão. As pessoas podem e devem opinar sobre o que acreditam ser o melhor caminho para o nosso país, pensando sempre na maioria da população hoje e amanhã.

21 julho, 2011

Para além do maniqueísmo midiático e partidário (parte I)

Nas discussões recentes sobre o código florestal brasileiro o que mais se viu foi troca de acusações sobre quem está certo ou errado. Colocando-se de um lado os ambientalistas apaixonados e irracionais; de outro, os ruralistas desmatadores impiedosos.

Visto de outra forma, também poderia ser: os ambientalistas a serviço da indústria fina e farmacêutica internacional, fazendo de tudo para impedir que o Brasil domine grandes tecnologias e explore suas potencialidades agrícolas no momento atual. Afinal, o país hoje é um grande exportador e está sabendo aproveitar suas novas relações internacionais iniciadas sob o exitoso governo Lula. As mudanças no código, portanto, beneficia um enorme contingente de médios e pequenos produtores, sem excluir os grandes, é claro. Pois à medida que ele flexibiliza fronteiras, possibilita uma maior produtividade.

Nos últimos anos o Brasil honrou seus compromissos internacionais, abriu novas rotas de comércio, elevou o PIB, distribuiu mais sua renda e tornou-se respeitado no mundo. Longe, da submissão diplomática e comercial, típicas do período FHC, o país vai se firmando como nação verdadeiramente soberana. Internamente, estamos nos livrando de algumas dívidas sociais e debatendo outras. As desigualdades regionais continuam, mas foram dados passos no sentido de fortalecer as economias mais frágeis, vilipendiadas durante séculos para manutenção das elites centrais. A massa salarial, a partir do mínimo, vem aumentando. Tudo isso é inegável, mas não justifica o maniqueísmo presente nas discussões sobre o código florestal.

Se tomarmos a história como referência – o que nesse caso é imperativo – veremos que todos os grandes ciclos de crescimento foram sucedidos de depressões, com aprofundamento das contradições sociais. Isso se dá porque nos sistemas de exploração, como é o nosso, o fruto do crescimento é distribuído incorretamente. O capitalismo tem como marca principal a exclusão econômica. Portanto, ter a ilusão de que o crescimento econômico vivido nos marcos do regime é garantia de desenvolvimento humano é negar a essência do mesmo. Tais entendimentos são necessários para discutir a questão ambiental sem paixões.

É verdade que há muito as empresas estrangeiras financiam “ecologistas”, “missionários”, “pesquisadores” e Organizações Não Governamentais (ONG) de toda espécie para explorar riquezas naturais em diversos países. Assim como também é verdade que a biopirataria se traveste de defensora da natureza. Todavia, precisamos distinguir os falsários daqueles que realmente estão preocupados com um futuro sustentável. Não dá para colocar na mesma bacia ONG’s vendidas e cientistas brasileiros sérios. Entretanto, também não devemos impedir que os pequenos agricultores sejam beneficiados com ações do Estado por conta das malversações dos latifundiários sócios do poder.